De quando
E aí tem o poema que eu te escrevi
Mas não tem rima e nem se quer
rabiscos de poesia tem.
Não há dúvidas que tem amor
só que não é pra mim
É amor alheio, amor dos grandiosos
Não é amor surgindo novo.
O amor que tem em ti é podre
É amor doído sangrando
em você, amor de abandono.
Amor de quem não se perdoou.
Tem amor nesse poema
Seu amor por ela entranhado
com seu ódio por ela entranhado
com a alegria de dizer que ela não
é feliz com o novo marido e o desejo
de que ninguém seja feliz jamais
tem essa mistura de amor e mufti ódio
de amargura e acidez
de dor e de remorço
Do outro lado bem longe
Tem eu com um laço de fita
e tem meu poema pra você e
agora mais um, tem um coração
limpo, esperando as festas,
O chão encerado, nos cantinhos
ainda tem poeira pra limpar
mas se não olhar bem nem dá
pra ver que já teve sangue nesse chão
Meu sangue escorrendo pelas pernas
Suor, chorume, lama e desinfetante
e mais e mais nojento e meus pés
fortes fincados como se estivessem
coletando o que me pertence
Tudo foi limpo com as minhas unhas
com as lágrimas e soluços
que despejei pra ele sim.
Pra lavar e pra levar nas correntezas
Aqui ele tem morada apenas
Em marcas que a pintura ainda não cobriu
Nas próximas demãos já me lembro menos
Quem sabe um dia já não importa nada
Quem sabe um dia não chega a hora
Das paredes coloridas, quem dera
Amarelas de margaridas
E novas flores brotando em mim
Quem sabe, quem sei, quando?