De quando

Lígia Francisco
2 min readOct 7, 2020

E aí tem o poema que eu te escrevi

Mas não tem rima e nem se quer

rabiscos de poesia tem.

Não há dúvidas que tem amor

só que não é pra mim

É amor alheio, amor dos grandiosos

Não é amor surgindo novo.

O amor que tem em ti é podre

É amor doído sangrando

em você, amor de abandono.

Amor de quem não se perdoou.

Tem amor nesse poema

Seu amor por ela entranhado

com seu ódio por ela entranhado

com a alegria de dizer que ela não

é feliz com o novo marido e o desejo

de que ninguém seja feliz jamais

tem essa mistura de amor e mufti ódio

de amargura e acidez

de dor e de remorço

Do outro lado bem longe

Tem eu com um laço de fita

e tem meu poema pra você e

agora mais um, tem um coração

limpo, esperando as festas,

O chão encerado, nos cantinhos

ainda tem poeira pra limpar

mas se não olhar bem nem dá

pra ver que já teve sangue nesse chão

Meu sangue escorrendo pelas pernas

Suor, chorume, lama e desinfetante

e mais e mais nojento e meus pés

fortes fincados como se estivessem

coletando o que me pertence

Tudo foi limpo com as minhas unhas

com as lágrimas e soluços

que despejei pra ele sim.

Pra lavar e pra levar nas correntezas

Aqui ele tem morada apenas

Em marcas que a pintura ainda não cobriu

Nas próximas demãos já me lembro menos

Quem sabe um dia já não importa nada

Quem sabe um dia não chega a hora

Das paredes coloridas, quem dera

Amarelas de margaridas

E novas flores brotando em mim

Quem sabe, quem sei, quando?

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